Não mude seu corpo antes de ler esse post! Por Favor!

Dublin.

Irlanda.

1 mês que eu havia mudado pra lá. Tudo novo, vida nova. Melhor sensação não há.

A sensação de renascer. É como se alguém te perguntasse: “Quer começar tudo de novo, do zero?”

E você tivesse erguido o peito (mesmo que se tremendo) e dissesse: “Só se for agora!”

Medo e empolgação andando lado a lado todos os dias.

Frio, parques, aula (bora dar uma turbinada no inglês), museus, pubs, pontes, perdi o celular (pior sensação. Parece q perdemos um membro do corpo rs), amigos, amigos que você se apaixona em minutos, você descobre que seu inglês é uma bosta, castelos, irlandeses lindos, teatros, shows, mais museus, fish and chips, euro, gente do mundo inteiro, você descobre que seu inglês é muito sensacional, brasileiros desconhecidos que se tornam amigos em segundos, já falei museus?, viagens, aula… mais aula…, você descobre que não existe inglês perfeito (por quê será buscamos esse tal inglês fluente caspita?)

Tudo tão normal, né?

É. Deveria ser.

Uma dor, de repente, do nada. Estranha. Jamais esquecerei esse dia. Lembro de cada detalhe.

Estava eu e duas amigas. Uma do Brasil, outra da Colombia. Decidimos mostrar a comida brasileira pra colombiana e a colombiana queria nos mostrar um teatro que ela já havia ido e tinha amado.

Fomos almoçar em um restaurante brasileiro (não sei o que dá na gente quando tá lá, pensamos em comida brasileira desde a hora que acordamos até a hora de dormir hauahuahu nem no Brasil comi tanta comida brasileira).

O lugar era bem escuro, eles quiseram fazer estilo pub das cavernas, sei lá. Só sei que nem dava pra ver direito o que estávamos comendo. Quando terminei minha comida, comecei a sentir uma dor forte na boca do estomago. Mas caramba, tinha acabado de sair pra passear… aguentei firme e forte. Jamais imaginaria o que estava por vir.

Chegamos ao museu e a dor foi intensificando, muito. As artes foram perdendo a graça, aquele dia já não estava mais fazendo sentido. Mas eu continuei. Nós mulheres e essa nossa mania de aguentar a dor para não mudar o que havíamos programado.

Final do passeio paramos em um pub famosíssimo que é de esquina, um pub lindo e parece um universo a parte. Compramos uma pint. Eu dei o primeiro gole, e pronto. A dor que estava lá no seu nível 2, foi pra 4 em segundos.

Decidi dar tchau pras meninas e ir embora pra casa. Viagem mais longa da minha vida. Chegava no Japão mas não chegava lá. Eu estava em Dublin 2, e morava em Dublin 8. Cheguei e corri pro quarto.

Eu estava morando com uma família half irish, half brasilian (metade irlandesa, metade brasileira). Valentine e Paula. Um casal maravilhoso que não abria a casa para estranhos, mas decidiram alugar um quarto pra mim a pedido de uma super amiga Roseanny, que me ensinou desde pegar um ônibus até a colocar cachecol direito rs. (obrigada amiga por tudo, nenhum post vai ser suficiente para agradecer todo apoio que tive de vc)

Claro que eu não queria dar trabalho, e me tranquei no quarto. A dor foi piorando. Fui tomando os remédios que achei da bolsinha de remédios que havia levado. Era um dor intensa, aguda, me tirava o ar. Eu não conseguia mais me mover, não conseguia mais ficar em pé, fui tendo dificuldade de respirar.

Mas lá dentro de mim eu achava que eram gases, umas gases sacanas que estavam querendo estragar minha estadia na Europa. Eu aguentei, aguentei o que pude. Passei mal a noite inteira. Vomitei. Fui ao banheiro várias vezes. Fui perdendo a força. Decidi ficar imóvel. A dor foi alastrando pras minhas costas. Amanhaceu. Eu não dormi 1 segundo. Eu ouvi a família acordando. Foi dando um desespero. O que eu ia fazer? O que eu ia fazer?

Eu já não conseguia erguer o corpo, estava em posição fetal.

O Val estava na sala, quando me viu já espantou. Perguntou: “o que você tem? Tá muito amarela!”

Pow. Val me levou correndo pra clínica aberta, já que era sábado. Mais dor.

E na minha mente só vinha: “Pq isso? Pq isso?”

Lá passei muito mal. Fui ao banheiro e não conseguia mais sair de lá. Eu lembro de ali começar a sentir um desespero. Eu percebi que ia cair ali no chão. Não ia mais ter forças. Vômito, diárreia, sensação de desmaio. Comecei a chorar. Desespero. Medo. Muito medo.

Eis que o Valentine grita: Cinthia, tá tudo bem? Você tá a muito tempo aí?”

E eu respondi chorando: “Val, não consigo mais sair. To muito fraca. Me ajuda.”

Ele chamou os enfermeiros que já me lavaram pra sala do médico. Médico me tocou, fez algumas perguntas. E na hora já ordenou que me levassem com urgência pro Hospital Saint James, o maior hospital daquela região da europa.

Dá pra acreditar Brasil? Lá vai eu, de ambulância, gritando de dor, recebendo atendimento a caminho do hospital.

Eu! De ambulância. De ambulância! De ambulância de novo (depois conto esse de novo)… de ambulância em Dublin.

Chego no hospital, aquela correria. Eles tão calmo e educados. E eu gritando, fazendo escândalo mesmo. Quem me conhece sabe o quanto sou calma (ou tento ser rs). Mas ali eu já estava no nível do: “por favor, corta um braço meu pra eu sentir outra dor que essa não aguento mais!”

Imagina a cena, hospital silencioso master. Nem um barulho. E eu gritando feito louca. Eu me contorcia, a dor me deixava á beira da loucura. Eu seria capaz de qualquer coisa para parar aquilo. Comecei a chorar. A Paulinha segurava na minha mão, com um cara desesperada. Ela não sabia o que fazer. Eu só lembro dela rezar muito e tentar me acalmar sempre. Eu fui perdendo as forças.

Morfina.

Senti algo.

O médico disse: Mais morfina pra ela.

Voltei à vida. Alívio da dor em segundos. E aí começou uma história de amor. Eu e a morfina. Não queria me separar dela um minuto. Eles colocaram morfina computadorizada no meu braço. Não sei se você conhece. Fica conectado em você 24h, e sempre que sentir dor você aperta o botão e a morfina é liberada no seu sangue. Nem preciso dizer que eu apertava o botão freneticamente.

Fiquei em estágio de observação. 3 dias. Longos 3 dias. Mas eu estava feliz, aquela dor havia passado, ainda doia, mas nada comparado aquele terror. Exames de todos os órgãos do corpo. Equipes médicas vindo me fazer perguntas. Santo Val, me ajudando nas traduções. Sim, porque foi lá que aprendi o que é “your balds are moving?” auhauahaua Nunca tinha ouvido falar. Significa (a grosso modo rs): “tá indo no banheiro, minha filha?”

No quarto dia liberaram minha alimentação. Yyyuuupppiieee. O que poderia ser melhor?

Coloquei um pedaço de pão na boca com café.  Já disse antes que senti a pior dor da minha vida? Era mentira!

Com certeza essa foi a pior dor. O pior momento da minha vida sem sombra de dúvidas. Eu senti um nó no estomago, a dor se alastrou pra toda as costas, me contorci. Comecei a gritar. Me desesperei. Eu senti que ali era o fim.

8 enfermeiros tentaram me segurar na maca. Eles queriam colocar morfina de novo em mim. Mas eu não conseguia parar. Doia muito. Perdi as funções do corpo. Quando percebi, tinha feito xixi na cama inteira. Foram mais de 40 furos no braço. Eles desistiram. Mais de 5 horas de terror que eu não desejo a ninguém no mundo.

E aí veio a notícia. Cinthia, precisamos operar você agora. Mas precisamos avisar o Brasil, sua mãe. Notícia mais difícil da vida. Eu sabia que eu precisava me despedir dela, eu não suportava mais. 3 dias fazendo exames e ninguém sabia o que era. Estava claro que era algo muito grave.

Como é que você avisa sua mãe que vai operar:

“Ah mãe, preocupa não. Vou só operar aqui rapidinho depois te ligo. Fica tranquila!”

“Operar do quê?”

“Ah então, não sabemos!”

Arre égua. Era melhor ter mandado uma carta bomba pra mamãe. Menos torturante.

.

Se eu tive medo de operar?

Nenhum.

Eu tive medo de morrer de dor.

.

Fim.

Do quê?

Da dor.

Abri os olhos. Paulinha estava lá, aflita, falando com mamãe no telefone. Ela disse chorando: “ela abriu os olhos Cida! Nem acredito! Obrigada meu Deus!”

Eu fiquei impressionada. “Quem será que abriu os olhos?” – pensei eu com meus botões hauhauah

É impressionante como algumas pessoas nos marcam com amor profundamente enquanto estamos sendo marcadas pelas dores da vida.  Não sei o que teria sido de mim nesse momento tão difícil sem vocês. Paulinha e Val, vocês marcaram minha vida com amor e serei eternamente grata. Há uma Cinthia antes e depois de vocês. Beto e Bela (filhos do casal), vocês foram minha recuperação mais doce e feliz. Amo vocês pra sempre.

Diagnóstico: Petersen hernia!!!!

These hernias occur in patients with a Roux-en-Y gastric bypass! (no caso eu!)

Corte vertical de cima à baixo na barriga. 24 grampos. Sim, porque lá (na Irlanda) eles não costuram após um corte cirurgico. Eles grampeiam. Se eu estava preocupada com um corte? Nem um pouco.

Estava num bom humor divino. Toda cortada, entubada, com cateter no pescoço, sem conseguir mexer, levantar, sem ir ao banheiro, sem me alimentar, mas feliz. Já estava até observando como tinham médicos lindos na Irlanda. (Senhor, multiplica rs.)

– estamos na sofrência, mas ninguém tá por morto ainda não papai! Hauhauahu –

E por quê tô contando toda essa sofrência?????

Eu lutei contra meu corpo a vida inteira. Cheguei a pesar 140kg. Fiz redução de estomago em 2008. (acreditando ser a solução de todos meus problemas). No início tudo são flores, até que eu comecei a engordar tudo de novo.
Uma das maiores lições que tive é:
operamos o estomago, e não nossos pensamentos e nossa forma de pensar e sentir.
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E daí tirei o aprendizado que levo como lema de vida hoje:
O nosso corpo é um instrumento para que possamos desfrutar a vida. Ao brigar com ele por não gostar do seu corpo, olhar de cara feia pro seu corpo… dizer para ele coisas ruins, tentar esconder ele pq não acha bonito, apertar aqui que tá grande demais, esticar acola que ta muito flacido… você ativa em sua mente a sirene de guerra.
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E é isso que é entendido pelo seu cerebro. Guerra ao seu corpo. Ele entende o que?
Que seu corpo é seu inimigo.
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E depois de tantas batalhas com meu corpo eu aprendi que só fazendo as pazes com ele, realmente passando a ver seu corpo com amor, como seu melhor amigo, aí sim… ele se transforma no que você quer.
Na harmonia entre vc e seu corpo.
Você se torna consciente dos seus pensamentos, sentimentos… logo… muda sua forma de se alimentar, de se movimentar
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eu fiquei com uma frase na mente e virou meu lema: Aprenda a amar o corpo que você tem para ter o corpo que você quer. Eu realmente acredito nisso.
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Meu sonho: que você não precise passar por nada do que passei para se amar hoje! Por favor, foque nisso!

 

4 comentários em “Não mude seu corpo antes de ler esse post! Por Favor!”

  1. Juliana Gocci Araujo

    Oi Cintia, venho trabalhado minha vida com os ensinamentos de Louise a algum tempo, porém identifiquei um vício em comida que não estou encontrando a causa. Tenho um conflito entre o corpo que tenho, o que desejo e como me vejo.
    Quero muito fazer whorkshop com vc e aquele retiro que vc faz com a Renata. Tem programação para 2019?

    1. Oi Juliana, tudo bem com você flor?
      Identificar a causa é com certeza a melhor solução.
      Enviando email agora pra você. tá? Daí você me envia o whatsapp e te passo mais detalhes dos próximos workshops no Brasil.

  2. Izabel Alfradique

    Olá Cintia! Vi um vídeo seu e adorei o seu jeito de se amar. Preciso aprender a
    me amar pois me crítico de todas as formas não me sinto bem comigo mesma e há dois anos entrei em depressão o que piorou mais.
    Mas gostei da sua energia positiva e a forma de se amar. Abraços

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